Momentos extremos nos ajudam a repensar aspectos diversos da nossa trajetória, rever os rumos que foram tomados e que nos levaram para onde estamos a fim de estabelecer novos objetivos. Assim também acontece na educação brasileira. Para isso, precisamos refletir onde estamos, para onde queremos ir e o que precisamos para chegar lá.”
Onde estamos
No dia 3 de dezembro de 2019 a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) relativos a 2018. Os números divulgados retratam que houve um sensível aumento na pontuação média de 2015 a 2018, mas que não foi significativo o suficiente para demonstrar avanços na qualidade da educação, mantendo o Brasil em um estado de estagnação nos últimos 10 anos. Exemplo disso é o elevado percentual de estudantes com performance muito distantes da média OCDE (13,4%) nas 3 disciplinas avaliadas (leitura, matemática e ciências), tendo atingido o percentual de 43,2%1.
É preciso lembrar que, dentre outros aspectos, o nível socioeconômico dos estudantes também interfere no resultado, sendo que a diferença, na pontuação, entre os de maior e menor níveis, em 2009, era de 84 pontos e passou para 97, em 2018. Outro dado recente se refere ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. Sendo medido anualmente, vai de 0 a 1 e tem como base indicadores de saúde, educação e renda; e, quanto maior, mais desenvolvido o país2. Nessa nova avaliação (2018), o Brasil alcançou o IDH de 0,761, com uma pequena melhora de 0,001 em relação ao ano anterior (2017). Apesar do leve aumento, houve uma queda na posição no ranking mundial em relação à publicação anterior, passando da 78ª para 79ª (Pnud 2019/ONU).
Isso não significa que na educação brasileira somente existem pontos negativos. Os resultados do Pisa apontam para uma melhoria na Educação Básica no Brasil, especialmente entre os anos de 2000 e 2009, sendo que avanços foram registrados nas 3 áreas avaliadas entre 2000 a 2018. Portanto, apesar das questões socioeconômicas interferirem consideravelmente nos resultados do desempenho, elas não são determinantes, haja vista o exemplo de alguns Estados nordestinos que têm realizado ações sistemáticas, como Ceará e Pernambuco, melhorando a qualidade da educação por eles oferecida e impactando positivamente o desempenho dos estudantes. Mas é preciso espelhar esses resultados para o todo o território nacional, desafio do tamanho de um país de dimensões continentais.
Para onde queremos ir
Quando pensamos no sucesso de outros países, especialmente da América Latina como Chile e Peru, observamos que um aspecto comum a eles é a profissionalização e valorização da carreira dos professores. Assim sendo, é preciso prover uma formação com ênfase nas práticas de como ensinar, aumento de salário a fim de promover uma mudança no perfil dos candidatos à profissão, além de avaliações constantes a fim de certificar a atualização profissional com base em evidências que direcionem as necessidades formativas.
Uma outra questão a ser considerada seria o estabelecimento de um exame nacional para professores, fato que, possivelmente, garantiria a manutenção da qualidade de entrada na carreira, além de prover uma estrutura de formação continuada que propicie o aperfeiçoamento das práticas pedagógicas.
O que precisamos para chegar lá
A qualidade do professor é o fator que afeta diretamente a aprendizagem do aluno. Garantido esse aspecto, começaríamos a vislumbrar um horizonte de possibilidades para os estudantes brasileiros e, junto com a garantia de continuidade das políticas públicas que apresentam resultados efetivos, obteremos resultados educacionais satisfatórios, transformando a realidade brasileira e, consequentemente dos jovens brasileiros que precisam ter o direito a educação de qualidade, com igualdade e equidade, garantido.
AUTORES
Profa. Dra. Simone Silveira Amorim
Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPED/Universidade Tiradentes; Pesquisadora do ITP/SE e do Tiradentes Institute. Líder do Grupo de Pesquisa Educação e Sociedade: sujeitos e práticas educativas (GEPES/Unit) <https://sites.google.com/view/grupopesquisaeducacaosociedade>. E-mails: amorim_simone@hotmail.com; simone.silveria@souunit.com.br; simone_silveira@email.org.itp.com.br.
Notas de Rodapé
1Esse percentual no Chile é de 23,5%; em Portugal é de 12,6%; nos Estados Unidos é de 12,6%; no Canadá, 6,4%; na China, 1,1%.
2Os países que estão nas primeiras posições no ranking são Noruega, com 0.954; Suíça, com 0,946 e Irlanda, com 0,942 (Pnud 2019, ONU).